quarta-feira

Ernesto de SOUSA ( 1921-1988 )

José Ernesto de Sousa (Lisboa, 1921 — Lisboa, 1988). iniciador do movimento cineclubista em Portugal, foi criador, investigador e crítico de arte, actividades a que dedicou toda a sua vida.
Entregou-se, desde muito jovem, ao estudo da arte e da fotografia. Espírito aberto, polémico, pioneiro em muitas das coisas em que se empenhou, exerceu uma vasta acção no campo artístico: artes visuais, cinema, teatro, jornalismo, rádio, crítica e ensaio. Como realizador, é reconhecido como um dos fundadores do chamado Novo Cinema (Dom Roberto - 1962), filme que inaugura o movimento, com Verdes Anos, de Paulo Rocha.
Não seria no entanto o cinema o seu meio de expressão mais assíduo. De um modo diversificado e prolífero, faz-se notar noutras artes, dedicando muito do seu tempo à fotografia. «As reflexões teóricas e o trabalho de Ernesto de Sousa na área da Fotografia foram elementos fundamentais para a inauguração da contemporaneidade artística».
Segue o curso de físico-química na Faculdade de Ciências de Lisboa (anos 40) onde organiza uma exposição sobre arte africana da Associação de Estudantes. Começa a colaborar com jornais e revistas como a Seara Nova, Vértice, Mundo Literário e Colóquio Artes.
Entra em violenta divergência com os seus contemporâneos surrealistas. Inicia a sua participação como crítico e teórico do neo-realismo artístico e literário dos anos 40, por entender ser esse o local propício ao magistério da arte como instrumento de libertação social e individual.
Entre 1949 e 1952 vive em Paris onde frequenta cursos de cinema da Cinemateca Francesa, da Sorbonne e do Institut de Hautes Études Cinematographiques, aulas de arte na Ecole du Louvre e faz o Cours d'Initiation aux Arts Plastiques de Jean d'Yvoire, com quem manterá relações de amizade. É membro do Ciné-Club du Quartier Latin, onde trava conhecimento com André Bazin e François Truffaut. Estagia em Marly-le-Roy, onde convive com Alain Resnais, Agnès Varda e Jean Michel, presidente da Federação dos Cine-Clubes Franceses.
É tido como fundador do primeiro cineclube em Portugal, o Círculo de Cinema (1946). Em 1948, a sede do Círculo é assaltada pela PIDE, que prende Ernesto de Sousa e os restantes membros da direcção. Esta será a primeira de quatro prisões por motivos político-culturais.
O carácter cultural e cívico desenvolvido por Ernesto de Sousa estende-se a todo o país e é completado pela revista Plano Focal, onde publica uma entrevista com Man Ray (nº 4, 1953), e pela revista Imagem (2ª Série, 1956-61), de que é redactor principal, lutando pelo “cinema novo” em Portugal (ver novo cinema). Entrevista o crítico Bernard Dort e o realizador Chris Marker, entre outros.
Participa na Colecção de Arte Contemporânea com Júlio Pomar por Ernesto de Sousa ( 1960 ).
Dirige a revista Imagem e prossegue a actividade cineclubista, revelando a toda uma geração de cinéfilos e jovens universitários de Lisboa os movimentos vanguardistas ou representativos do cinema dessa época.
Entusiasmado pela sétima arte, consegue realizar, com meios precários - tendo Raul Solnado como actor principal e outros actores que ficariam - o filme Dom Roberto, premiado noFestival de Cannes de 1963 (Menção Especial do Júri do Melhor Filme para a Juventude). É então detido pela polícia política do Estado Novo, que o impede de estar presente emCannes. Para financiar o projecto, Ernesto de Sousa tem a ideia de criar uma cooperativa de cinema, ideia que se manteria viva e que seria tema quente na revista Imagem.
Dedica-se entretanto à pesquisa no campo da arte popular portuguesa, dá a conhecer artistas como Rosa Ramalho e descobre a obra de Franklin Vilas Boas, engraxador de Esposende, que, para fazer esculturas, recolhe restos de troncos de árvores e destroços de madeira na praia e lhes retira «o que está a mais». Mantém-se activo no universo da arte, quer como comentador e escritor quer lidando com galeristas e trabalhando nos meios de difusão da arte em Portugal.
Em 1969 encena o exercício de comunicação poética, com música ao vivo por Jorge Peixinho e o Grupo de Música Contemporânea, destacando autores de quem gosta: Herberto Helder, Almada Negreiros, Luísa Neto Jorge, Mário Cesariny. Cria a 14ª Oficina Experimental para desenvolvimento de projectos colectivos, de “criação permanente”, para «investigar e aprofundar as formas de comunicação».
Almada Negreiros é para Ernesto de Sousa uma referência permanente. A obra e a personalidade deste autor são ponto de partida para artigos, livros, e «mixed-media».
Em meados dos anos 60 entra em contacto com o movimento Fluxus, corresponde-se com Ken Friedman, entrevista Ben Vaultier e torna-se amigo de Robert Filliou e de Wolf Vostell. A partir de 1976, faz uma primeira visita ao Museu Vostell Malpartida, de Cáceres, e participa na inauguração da escultura-ambiente VOEX. Esta relação com Vostell permite o alargamento do seu projecto MVM com a participação de muitos artistas portugueses. Estará entretanto presente em estágios e congressos internacionais dedicados ao estudo dacomunicação e da pedagogia, através dos meios audiovisuais.
Em 1972 Ernesto de Sousa visita a Documenda 5, em Kassel, onde entrevista Joseph Beuys. Fascinado pela vida e obra deste artista alemão, sublinha a vertente pedagógica do seu trabalho e a concepção da arte como vida. Desenvolve projectos artísticos em vídeo e organiza, em 1977, a exposição Alternativa Zero, na Galeria Nacional de Arte Moderna, em Belém.
Recupera os painéis de Almada no Cine San Carlos em Madrid e consegue transportá-los para Portugal, numa importante operação no âmbito da defesa do património nacional.
Envolve-se nas correntes de mail art. É sócio fundador da Galeria Diferença (1978), membro da AICA e do IKG (Internationales Künstler Gremium).
Ainda entre os anos 60 e 80, divulga a videoarte, o happening, a performance, em cursos, artigos e conferências que contribuem para abrir caminhos à arte portuguesa, entre as quais,Arte portuguesa actual, na Ecole Supérieure d'Arts Visuels, em Genebra, a convite de Chérif Défraoui. Apresenta, em 1976, o Ciclo sobre arte vídeo, no Instituto Alemão de Lisboa, em colaboração com a videoteca do Neuer Berliner Kunstverein Faz ainda a apresentação de vídeos de R. Hamilton, Vostell, Beuys, Rebecca Horn, Allan Kaprov. Por convite de Dulce d'Agro, introduz o ciclo Performing Arts, na Galeria Quadrum, em que se exibe vasta documentação visual sobre happenings, envolvimentos, performances, events, videoarte e nova fotografia, em colaboração com Gina Pane, Ulrike Rosenbach e Dany Block, entre outros.
É comissário por Portugal para a Bienal de Veneza em 1980, 1982 e 1984.
in Wikipédia

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